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Abates de jumentos crescem 35 vezes em sete anos, no Piauí
Dois jumentos em área aberta/ Imagem: Envato

Abates de jumentos crescem 35 vezes em sete anos, no Piauí

De acordo com os números revelados, de 2017 a 2024, 278.821 animais dessa espécie foram mortos apenas em abatedouros legais.

Por: Viviana Braga 18 set 2024, 19:06

Quem visita o litoral do Piauí se admira das belezas naturais e pouco exploradas, da culinária e do acolhimento caloroso do seu povo. Mas, para além do encantos óbvios, outra característica marcante da região é a presença frequente dos jumentos em todos os lugares. O animal, que é símbolo da resiliência local, tendo importante papel social e cultural, é também um atrativo à parte para os turistas.

É comum ver os grupos de visitantes, especialmente não nordestinos ou estrangeiros, interagindo com os animais, que além da atenção e carinho que ganham dos viajantes, acabam fazendo parte das lembranças da viagem seja nas fotos ou nos souvenirs, encontrados nas lojas locais. No entanto, apesar de admirados e festejados pelos de fora, os jumentos vivem uma realidade de descaso, correndo até mesmo risco de extinção.

Segundo um levantamento recém publicado pelo site SBT News, com base em dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o número de abates de jumentos saltou 3493%, nos últimos sete anos. Um dado alarmante e que reflete a falta de políticas públicas voltadas para a proteção desses animais.

A explicação para o fato está crescente exploração de países asiáticos – especialmente China, Hong Kong e Vietnã – que expandiram, a partir de 2016, a demanda por produtos cosméticos e farmacêuticos, que se utilizam do eijão, gelatina extraída da pele de jumentos para sua produção. Além disso, em menor escala, a carne desses animais também é utilizada para consumo.

De acordo com os números revelados, de 2017 a 2024, 278.821 animais dessa espécie foram mortos apenas em abatedouros legais. Enquanto que de 2009 a 2016, esse número era 7.760 abatimentos.

Especialistas alertam que a falta fiscalização no momento da apreensão dos jumentos que são levados para abatedouros, é um dos principais problemas. Em regiões como no litoral do Piauí, onde a maioria dos jumentos ficam livremente soltos nas ruas, é onde a maioria das capturas acontecem.

“Antes de chegar no abatedouro, eles são colocados todos juntos. O que estiver doente vai junto com o que está saudável, aumentando o risco de transmissão de doenças. Eles são reunidos todos em um curral ou todos em meios de transporte sem a menor condição para isso”, explica Débora Façanha, doutora em Zootecnia e cientista da associação Jumentos do Brasil.

A pesquisadora alerta que, como não há critério para a escolha do jumento que será abatido e o interesse maior é pela pele, há uma cadeia extrativista que não se importa se o jegue está em desenvolvimento, velho, magro, gordo e muito menos saudável, colocando um potencial risco de proliferação de doenças.

Enquanto isso, no país ainda não há uma lei específica de proteção aos jumentos. Apenas  decreto nº 9.013 regulamenta o abate de equídeos no país. Mas, conforme defensores da causa, o decreto está longe do ideal.

Viviana Braga

Jornalista, cofundadora e diretora-executiva da EcoNós.

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