O protagonismo das mulheres nordestinas na ciência e no meio ambiente
No Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, destacamos o protagonismo feminino na pesquisa ambiental no Nordeste e como os saberes ancestrais femininos ajudam na preservação ambiental.
O Nordeste brasileiro enfrenta desafios ambientais severos, como a desertificação, a erosão costeira e a perda de biodiversidade. Esses problemas impactam diretamente as populações locais, ameaçando tanto a segurança alimentar quanto os modos de vida tradicionais. Em meio a esse cenário, mulheres nordestinas na ciência têm desempenhado um papel fundamental na pesquisa e no desenvolvimento de soluções para mitigar os impactos ambientais na região.
No entanto, a presença feminina na ciência ainda enfrenta desafios históricos e estruturais. Barreiras institucionais, desigualdade de oportunidades e a falta de visibilidade para o trabalho das mulheres cientistas são entraves que precisam ser superados.
Apesar disso, pesquisadoras têm se destacado em diferentes áreas da ciência ambiental, desenvolvendo estudos que influenciam diretamente políticas de conservação e sustentabilidade.
Com o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro, torna-se essencial reconhecer e valorizar o protagonismo feminino na produção do conhecimento científico.
Mais do que uma questão de igualdade, incentivar a participação das mulheres na ciência é fundamental para garantir uma abordagem mais diversa e eficaz na solução dos problemas socioambientais.
A presença feminina na ciência e os desafios da equidade
Historicamente, as mulheres foram excluídas de diversos espaços acadêmicos e científicos. Mesmo com os avanços conquistados ao longo das décadas, a desigualdade de gênero ainda persiste, especialmente em áreas ligadas às ciências exatas e ambientais.
Segundo dados da UNESCO, apenas cerca de 30% dos pesquisadores do mundo são mulheres, e no Brasil essa realidade se reflete nas universidades e instituições de pesquisa.
No Nordeste, muitas cientistas enfrentam desafios extras, como a falta de financiamento adequado para projetos ambientais e o preconceito enraizado em estruturas acadêmicas. A dupla jornada de trabalho, que inclui responsabilidades domésticas e familiares, também impacta a carreira de muitas pesquisadoras, limitando suas possibilidades de crescimento e reconhecimento.
No entanto, a diversidade na ciência é essencial para que problemas complexos sejam analisados a partir de diferentes perspectivas. Estudos mostram que equipes científicas com maior equidade de gênero têm resultados mais inovadores e abrangentes, o que reforça a necessidade de incentivar a participação feminina na pesquisa ambiental.
Programas de incentivo e políticas afirmativas vêm sendo implementados em algumas universidades nordestinas, promovendo a inclusão de mulheres em áreas estratégicas da ciência. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para que a equidade seja, de fato, uma realidade.
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Mulheres nordestinas na ciência ancestral: saberes femininos na preservação ambiental

Marisqueira fazendo a cata do marisco na região do Delta do Parnaíba (PI)/ Foto: Carolina Simiema
Muito antes da institucionalização da ciência moderna, mulheres nordestinas já desempenhavam papéis essenciais na preservação ambiental por meio de saberes ancestrais. O conhecimento passado de geração em geração sobre plantas medicinais, manejo sustentável da terra e conservação de recursos hídricos sempre foi central para a sobrevivência das comunidades rurais e indígenas da região.
As parteiras tradicionais, por exemplo, além do conhecimento sobre o corpo humano e a saúde das mulheres, dominam técnicas naturais de cura que dependem da biodiversidade local. Esse saber, muitas vezes desvalorizado pela ciência formal, representa uma riqueza imensa para práticas de conservação e uso sustentável dos recursos naturais.
Outro exemplo são as marisqueiras e pescadoras artesanais que aplicam técnicas tradicionais para a pesca sustentável, evitando a sobre-exploração de espécies e garantindo o equilíbrio ecológico dos manguezais e estuários. Muitas dessas mulheres lideram iniciativas de educação ambiental em suas comunidades, promovendo práticas que conciliam economia e preservação ambiental.
A valorização desses saberes femininos ancestrais é essencial para integrar conhecimentos científicos e tradicionais na construção de soluções ambientais. Projetos que envolvem essas mulheres nas políticas de conservação e manejo sustentável têm demonstrado resultados mais eficazes e socialmente justos, garantindo que o desenvolvimento sustentável seja inclusivo e respeite a diversidade cultural do Nordeste.
Como o protagonismo feminino contribui para a mitigação de impactos ambientais?
As mulheres cientistas têm uma abordagem diferenciada na pesquisa ambiental, muitas vezes considerando aspectos sociais, culturais e econômicos nas soluções propostas. Essa visão mais holística é fundamental para a criação de estratégias sustentáveis e efetivas.
Além disso, estudos apontam que projetos ambientais liderados por mulheres costumam ser mais colaborativos e comunitários, gerando maior engajamento da população local. No Nordeste, essa dinâmica é essencial, já que muitas das soluções para problemas ambientais dependem do envolvimento das comunidades tradicionais e rurais.
A ampliação do protagonismo feminino na ciência também contribui para a formação de novas gerações de pesquisadoras. Jovens meninas nordestinas, ao verem mulheres cientistas em destaque, sentem-se mais motivadas a ingressar em carreiras científicas, criando um ciclo virtuoso de inclusão e inovação.
Investir na participação feminina na ciência é, portanto, uma estratégia fundamental para enfrentar desafios ambientais e sociais de forma mais eficiente. A valorização do trabalho dessas cientistas precisa ser uma prioridade para governos, instituições acadêmicas e sociedade.
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Conclusão
As mulheres cientistas nordestinas têm um papel essencial na busca por soluções sustentáveis para os desafios ambientais da região. Apesar das barreiras históricas, elas seguem inovando e contribuindo significativamente para a pesquisa e a preservação do meio ambiente.
Apoiar e incentivar a presença feminina na ciência é essencial para construir um futuro mais sustentável e igualitário. Que tal conhecer e divulgar o trabalho dessas cientistas? O reconhecimento é um passo importante para ampliar as oportunidades para mulheres na ciência e garantir um impacto positivo para a sociedade.
Jornalista, fundadora e diretora-executiva da EcoNós. Acredita no poder da comunicação para mobilizar comunidades e influenciar políticas públicas.